Nos dias 14 e 15 de dezembro aconteceu, no Instituto de Estudos Avançados, o workshop Fragmentation and Solidarity, realizado pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV-USP) em parceria com o JDL e pesquisadores da Goethe University em Frankfurt. A intenção foi reunir estes pesquisadores para discutir, à luz de seus países e estudos, os movimentos de fragmentação e solidariedade que permeiam diversas relações envolvendo a esfera pública, o direito, a família, o trabalho e outras que já vinham sendo tema de reflexão entre os grupos desde 2009, quando realizaram pela primeira vez atividades conjuntas.

Após a abertura e introdução do tema por Vitor Blotta, o pesquisador do IP-USP Luis Galeão da Silva discorreu a respeito dos direitos humanos e da intersubjetividade à luz da psicologia social, retomando inclusive casos brasileiros como a ditadura militar e a necessidade de reparação dos danos psicológicos. Para tanto, recorreu a autores como Habermas e Walter Benjamin. Outras referências brasileiras como a violência na periferia também foram discutidas. Angela Davis foi uma das autoras levantadas para debater a interseccionalidade na discriminação — classe, gênero e raça. Minorias e direitos humanos foram a máxima da mesa, que discutiu a importância da diferença para se respeitar os direitos humanos e a maneira como a fragmentação representa o esquecimento destas diferenças. A religião e a educação também foram discutidas enquanto formas de solidariedade.

Na tarde do dia 14, a pesquisadora Mariana Pimentel, do NEV-USP, trouxe contribuições à luz da psicanálise a respeito da relação entre identificação, alteridade e solidariedade, retomando autores como Butler e Honneth.

No dia 15, as discussões começaram pela manhã tendo como tema central solidariedade e o trabalho. Temas como a dualização da economia na sociedade — um ligado ao mundo global competitivo e outro vinculado ao trabalho não competitivo — a exploração da mão-de-obra e de recursos naturais pelas transnacionais, impedindo o desenvolvimento de países subdesenvolvidos foram trazidos para discutir o desenvolvimento fragmentado ligado ao trabalho.  A influência e o papel da política nesse cenário também foi tema de discussão.

Pela tarde, Clifford Griffin (NCSU) trouxe contribuições ao discutir o trabalho e a fragmentação de comunidades como a caribenha, explorando uma possível integração por meio de um ideal de solidariedade. Ele utilizou como base para discutir o caso do Caribe os sistemas econômicos, identitários e culturais europeus, como iniciativas de integração do governo britânico. Outras interfaces mais problemáticos do caso do Caribe, como as pressões e influências externas de diversas ordens, até mesmo no que se refere à políticas antidrogas e relações econômicas foram discutidas, além das questões sociais da própria região como as raciais e históricas.

Por fim, o evento foi encerrado com contribuições de Filipe Campello (UFPE) a respeito da influência e papel do afetivo e do emocional nas relações de fragmentação e solidariedade. Ele explica e relaciona o tema ao conceito de “comunidade imaginada” cunhado por Benedict Anderson. Ele cita também Hegel para falar a respeito do patriotismo — fortemente criticado por este uma vez que poderia levar ao fanatismo — e da influência das emoções na constituição dele. O sentimento de medo enquanto emoção política também foi discutido por ele. Ao discutir a articulação entre racionalidade e emoção, falou a respeito da visão negativa normalmente associada a última e a maneira como ela está profundamente indissociada das discussões a respeito dos movimentos sociais.

Foto: Matheus Araújo | Acesso a cobertura em fotos completa do evento

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